sábado, 20 de dezembro de 2008

O Louco

Não dormia havia dois dias, e nem queria. Sentou no sofá, cachorro deitado ao seu pé, um bom e velho scotch na mesa ao lado e computador no colo. E começou a escrever. Escrevia desesperadamente, como se sua vida dependesse daquilo. Ligou as caixas de som, e logo a sala se encheu de vida.

A musica o fazia escrever cada vez mais freneticamente, e foi assim que ele enlouqueceu, ficou completamente insano. Apartir desse dia nunca mais foi o mesmo. Passou a acordar cedo todos os dias só para poder escrever mais, isso é, se tivesse dormido na noite anterior, passou a viver a vida como se fosse um livro que ele estava escrevendo. Ele podia mudar o final se quisesse.

Enlouqueceu. Vivia como se cada dia fosse o ultimo, até por que poderia realmente ser. Seus vizinhos às vezes reclamavam do alto som provocado por suas caixas de som pela madrugada. E ele simplesmente se desculpava e abaixava o som.

Enlouqueceu um pouco, ficou um tanto quanto maluco, que coisa mais triste, viver daquele jeito, revoltado com o mundo, com tudo e todos. Só um louco seria tão revoltado como ele era. Ou será que não?

De fato, ele era um tanto quanto louco.

Ou será que não? Os loucos somos nós, que vivemos de um jeito tão ensandecido, tão corrido e violento. Somos loucos de aceitar de braços cruzados o mundo como está, aceitar que tenhamos um presidente como o que temos, aceitar que nossos políticos, que estão lá pra zelar por nós, nos assaltem assim, na cara dura.

Realmente, loucos somos nós que não fazemos nada em relação a essa balburdia que hoje é o Brasil. Somos loucos por passar por um mendigo na esquina e nem ao menos olha-lo, sequer temos a intenção de ajuda-lo, ou de tentar fazer algo por ele.

Chega, pra mim basta, prefiro ser um louco, com sua licença, vou para a sala, ligar meu som e enlouquecer também, pra mim já chega!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Doce vida

Andava na rua fazia dias, completamente desnorteado, sem um pingo de consciência de como fora parar ali. Lembrava-se de uma luz, fraca, vinda de algum lugar que nao reconhecia, mas sabia que não deveria segui-la. Não queria morrer, não podia morrer. Não agora, antes que pudesse ver sua filha crescer. Dançar valsa com ela em sua festa de debutante, não sem antes consentir com que ela se casasse.

Mas mesmo assim a luz continuava ali, vinda de qualquer lugar. Não queria ir, precisava ficar, ver sua mulher ao menos mais uma vez, ou quem sabe duas. Queria ser assaltado, ter uma vida normal, e não morrer assim do nada, sem nem saber o que lhe ocorrera. “Deve ter sido uma” morte muito rápida e violenta, inesperada. Não lembrava-se de ter morrido, de estar doente ou algo assim.

Lembrava-se que havia sido um garoto eternamente mal tratado, tanto em casa quanto na escola, um garoto magricela, com um óculos que mais parecia um pára-brisas de ônibus. Inteligente, sempre tirava notas altas. Mas não queria levar essa vida, não queria ser só mais um nerd na multidão. Queria mais, queria namorar a garota mais conhecida da escola, aquela que vivia as voltas com... Com... Com quem mesmo? Não se lembrava do nome de ninguém. Será que lembrava-se do próprio nome?

Fez força pra lembrar, não conseguiu, achava que começava com “P” ou com “C”, será que era Carlos? Ou quem sabe Paulo. Não havia jeito de saber. Precisava correr, a luz estava ficando mais forte. Tentou correr, mas estava com as pernas presas.5 minutos se passaram, ou 5 horas. Quando se está morto não se tem a percepção de tempo. Será que foram dias? Mas não é possível, tinha que haver um jeito para voltar.

-Seu Raimundo. Seu Raimundo.

Havia outra pessoa no local, chamava por alguém que não era ele. Seu nome era com “P” ou “C” isso era uma coisa que não tinha duvidas, ou será que era com “R”? Mais uma vez a voz chamou:

-Seu Raimundo. Seu Raimundo.

-Quem é você? Deus?

-Que Deus o que Seu Raimundo.

-Ora, então quem és?
-Seu médico oras, Dr. Afonso, sua cirurgia já acabou, foi um sucesso. Amanha mesmo poderá voltar para sua casa.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Cotidiano

Seu celular toca.Acorda num pulo. Olha o relógio: 9:30. "Puta que pariu! Terceira vez que eu me atraso essa semana e olha que hoje é só terça-feira.", pensou. Bota a cafeteira pra funcionar enquanto vai tomar uma ducha rápida, tinha que recuperar essa meia hora. Como? Correndo que nem um louco pela cidade de carro. Tomara que hoje não tenha tanto trânsito quanto ontem.

Doce ilusão, o trânsito mais pesado ainda o fazia se desesperar. Como iria explicar para seu chefe que pela terceira vez na semana, sendo que ainda era terça-feira, ele teria se atrasado pra chegar ao trabalho. "Só ontem já foram dois atrasos!" imaginou Seu Antonio berrando atrás de sua mesa. Agora em meio ao caos do trânsito, ele ficava mais nervoso. "Chega!!" Desisto, vou pra casa dormir e dizer que tive uma virose súbita". "Merda!! Não posso falar isso sexta-feira usei a mesma desculpa."

Então era isso, iria para o trabalho, pedia mil desculpas ao chefe e entraria com o rabo entre as pernas no escritório. Pronto, era isso. O certo a se fazer, o correto, o ÉTICO.

Engraçado pensar nisso, ética é a palavra que ele mais usa no trabalho, de frente para aqueles jurados. "Ética", uma palavra valiosa, tão valiosa que com ela pode-se ganhar um processo. E uma palavrfa que tanto lhe faz falta, dentro e fora do tribunal.

"Esquece esse desvaneio e siga em frente", tentou mudar de pensamentos. Pulou logo pra parte do esporro, "Se ele disser que vai me despedir, jogo lhe tudo na cara. Digo a verdade. Que sou o advogado que mais dá dinheiro aquela empresinha dele. E que pode procurar no mercado, melhor que eu, nunca vai encontrar."

"BLAM", "Puta que pariu!! o que eu fiz pra merecer isso?", era a segunda vez no mes que batiam no seu carro. Ainda bem que dessa vez não havia sido tão feio. Da outra preferiu até trocar de carro, o porta-malas havia emperrado com a batida, mas dessa apenas uma lanterna quebrada.

"Ok! seguimos em frente vou pro trabalho com essa lanterna quebrada mesmo, mais tarde dou um jeito de consertar."

Seu celular toca.Acorda num pulo. Olha o relógio: 9:30.

Quatro por Quarto

Chovia desde o dia anterior e Eduardo ali deitado na cama querendo que sua sexta-feira de folga acabasse o quanto antes. Como qualquer workaholic ele não podia deixar de sentir falta do trabalho. Quando tem a brilhante idéia de sair pra dar uma voltar de carro pelo bairro, coisa que não fazia há tempos, até mesmo por ter que trabalhar tanto. Realmente não é fácil ser um consultor de sucesso. Já na rua Eduardo pára em um sinal e a vê, aquela linda garota de cabelos longos e ruivos(tingidos mas ainda assim ruivos) andando a passos largos com pilhas e pilhas de livros.

O telefone toca, “sim é ela, por favor, que seja ela” pensa Eduardo e realmente era. Pergunta se ele não quer passar em sua casa, e ele prontamente diz que irá pra lá no mesmo momento. E parte deixando pra trás a linda visão da ruiva. Mal sabia ele que conhecia, e muito bem aquela, ruiva de corpo escultural.

Débora não sabia o que era pior, se era a chuva que acabava com o cabelo que tinha pintado quinze minutos antes”faz bem mudar um pouco”, seus sapatos que não eram nada confortáveis ou a pilha de livros que tinha que levar pra casa e acabar de ler até a semana seguinte. Mas algo a deixava feliz, sim, pois hoje iria encontrar com Lucas e poderia chamá-lo de seu pelo resto do fim de semana, a muito que os dois não podiam se ver por mais de 1 hora, quem diria, 2 dias inteiros e ele inteiro dela.

Ele já tinha arquitetado tudo, iria dizer à mulher que viajaria e iria passar o resto do fim de semana na casa de Débora. Mas antes que isso pudesse acontecer ela ainda tinha que levar os livros pra casa e tirar os sapatos que ainda maltratavam seus pés.

Lucas sabia que era pedir demais que sua mulher acreditasse que ele iria viajar, mas não poderia ser diferente, ele sabia que se não passasse esse fim de semana com Débora ela poderia se cansar dele, afinal de contas o máximo que conseguiam ter eram algumas rapidinhas depois de reuniões estressantes. Débora, sua secretária predileta, e a que mais tinha se deixado levar por sua famosa lábia de sedutor, sabia que ela sempre lançara alguns olhares mais atrevidos a ele e isso se intensificou quando ele foi promovido de surpresa.

Mal sabia ela que todos os homens do escritório se deleitavam antes das reuniões pensando em como ela devia ser na cama, principalmente Eduardo, mas Lucas como um grande apaixonado que era nunca nem mencionava o fato de ter uma relação, digamos, mais estreita com ela.

Isabela sentia que aquilo era errado, mas não tinha como negar que seu casamento já não era como antes. Desde que começara a sair com o chefe de seu marido, a vida profissional dele tinha alçado vôo e ela sabia muito bem o porquê. Sentada ali em sua cama com a camisola mais sexy que tinha, começou pensar como era antes de seu casamento ir por água abaixo, sempre que ele chegava a casa era a mesma história, comer, deitar e dormir. Por mais que ela ainda fizesse algum charme ele nunca correspondia. Nesse casamento quem sentia as dores de cabeça era ele e não ela. Logo que a campainha tocou seus pensamentos se dissiparam e ela voltou a si, já era a hora. Abriu a porta e Eduardo entrou, sabendo que não corria risco algum já que Lucas já teria ido viajar, ou como ele mesmo sabia, teria ido para a casa da Débora aquela secretária gostosa da mesa ao lado da dele.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Maldito bloqueio criativo

É, resolvi falar desse mal que tanto me aflinge, o maldito do bloqueio criativo. Só quero dizer uma coisa pro senhor seu bloqueio: “vá pro inferno e não volte tão cedo.” Não agüento mais, tento escrever algo e o senhor já vem me atrapalhar.

E lá vem você de novo, to começando a esquecer as coisas que tinha pensado antes para escrever, mas dessa vez o senhor não vai me pegar.

Nããão, já vim preparado, café, bolo e uma musiquinha de fundo.

Nem tente chegar perto de mim novamente.Não vai ser um bloqueio criativo qualquer que vai me parar. Já é o terceiro texto que você tenta me atrapalhar essa noite, mas dessa vez eu me preparei. Levantei, tomei um café, comi um pedaço de bolo, e coloquei aquela música de fundo, hááá quero ver me pegar agora. Descobri seu ponto forte, ou o meu ponto fraco, que seja, não quero nem saber, só sei que agora nunca mais vai acontecer o que tem acontecido esses últimos meses. Deito, imagino uma porção de coisas pra poder escrever, e é só eu sentar no computador que lá vem você de novo querendo me atrapalhar.

Mas dessa vez não, sou mais forte que você. Agora já chega, acho que já o espantei né?

Ou não, agora me confundi, será que isso não é só mais um truque seu? Me fazer pensar que já escrevi o suficiente e cortar um texto pelo meio? Éé, acho que esse texto ainda rende.

Pare com isso, fica me confundindo, só por causa disso também não escrevo mais.

(...)

Tá, chega!! Não agüento ficar sem escrever com essas idéias pipocando na minha cabeça.

Dessa vez não deito sem que tenha escrito tudo que pensei.

Vou dar uma olhada na internet e já volto pra te xingar mais

(...)

Cansei, chega de internet por hoje, minha discussão é com você, e hoje não durmo enquanto não te disser umas muitas e boas, sim muitas, por todo esse tempo que o senhor me atrapalhou.

Decidi que não quero mais a presença do senhor perto da mesa do meu computador. Vive me atrapalhando, sorte sua que ainda não me atrapalhou na escola. (ACHO BOM!!)

Espero que tenha entendido o recado, favor não me visitar mais, NUNCA mais.