quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Choro

E todo mundo acreditava nele. Ele iria sim parar em algum lugar alto. Algum cargo bom, ganhando um dinheiro forte. Mas se perdeu. No meio da vida seu caminho desviou. Ou melhor, foi desviado. Mesmo não tendo visto aquela linda ruiva ao passar na frente de seu carro, na chuva, correndo pra não ter sua blusa lavada com as lágrimas que vinham de cima.

Lágrimas pesadas e fortes, mas não tão intensas quanto as que caiam do rosto dele. De dentro do carro ele chorava de soluçar, não por ter perdido alguém de sua família, nem por ter terminado aquele romance de anos. Chorava porque queria e gostava de chorar, assim, do nada, apenas olhava pra frente e chorava.

Foi tentando descobrir o porque de tantas gotas pesadas em suas bochechas que acabou conhecendo-a. Entrou no consultório de sua mais nova terapeuta, limpou-se da pouca chuva que tomou do carro até a entrada do prédio, olhou para os dois lados e mesmo assim não a viu. Passou por ela e nem sequer notou. Entrou no consultório, falou tanto que ficou com a boca seca, achava aquilo uma tremenda duma babaquice, contar os problemas para uma pessoa que apenas o olhava e balançava a cabeça. Se sentia um tolo por pagar uma coisa dessas.

Mas era o jeito, ninguém nunca conseguiu descobrir o porque de cair em lágrimas do nada sem que nada lhe acontecesse.

Assim que acabou a consulta, foi correndo para não perder o elevador. Não o alcançou. Ah se o tivesse feito, todos os seus problemas estariam resolvidos, não teria descido as escadas, escorregado e batido com a cabeça no frio degrau. Não teria partido ali, sem nem ao menos saber o nome da ruiva a quem tinha notado diversas vezes por aquele prédio, e que sua insegurança não o deixava tentar falar alguma coisa. E então descobriu o motivo de seu choro constante, percebeu então que só aquilo poderia fazê-lo chorar tanto assim, mas preferiu guardar pra si mesmo à ter que sair por ai se explicando, tudo por causa da maldita insegurança.